
Ele vê o tempo dedicado a determinada obra passear nas ondas sonoras emitidas pelas maiores vozes do samba nacional. Isso é motivo de alegria. Mas nem sempre foi assim. Nelson Rufino de Santana, ou para os amantes do samba, apenas Nelson Rufino, já começou com saudade.
A saudade da mãe foi o motivo para a primeira música. Numa noite, ao receber uma carta da irmã dizendo que, ou voltava ou a mãe morreria de tédio Nelsinho pegou o violão e começou a compor. A história tem início no Rio de Janeiro quando nosso compositor tentava ser jogador de futebol. A canção: “Bahia, Meu Primeiro Travesseiro”.
O compositor baiano, mesmo tendo morado no Rio, desmitifica a rivalidade levantada por muitos outros compositores e até mesmo intérpretes que dizem haver uma disputa entre o samba da Bahia e o do Rio de Janeiro. É notório na capital baiana ensaios aos domingos de bandas de partido alto e tribos que cultuam o samba. Óbvio que nada chega perto da Lapa carioca que respira a boemia e o samba.
Para isso, Rufino tem uma simples, porém inteligente explicação. “Lá é como se fosse uma república, uma confraria, porque o Rio adotou a cultura do samba, Salvador não. E por quê? Porque Salvador tem várias vertentes, é riquíssima em criação e recriação, então os caminhos são diversos, não se prendem somente ao samba”, explica o compositor.
Voltando à história
Dez meses, depois de ter estado no Rio, agora, de volta à Bahia, ele foi convocado para compor um samba para o bloco do Tororó. O ano era 1963 e Nelson tinha 19 anos. Em 1965, o Tororó virou escola de samba e, com esse samba-enredo, a escola foi campeã. A partir daí o samba da Bahia, segundo Rufino, se fortaleceu.
Alguns nomes da Música Popular Brasileira (MPB) já gravaram Rufino. Entre eles estão Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Alcione, Clara Nunes, Emílio Santiago, João Nogueira, Paul Mauriat e Mart‘nália, Martinho da Vila, Nara Leão, Elza Soares, além de Jorge Aragão, com quem compôs Colcha de Algodão.
Modo de Fazer
Quanto à “fórmula” para a produção de sambas memoráveis, ele deu algumas pistas, há algum tempo: “Geralmente a inspiração bate à minha porta de madrugada, sou muito madrugueiro. Gosto de cantar quando estou com fome, com vontade, não gostaria de ter uma vida normal de artista porque gosto de cantar com o coração, com a emoção, não por obrigação. Tem dias em que fico com vontade de fazer uma farra e, aí, em qualquer birosca que aparece, eu peço um mi maior e já vou cantando”.